segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Álibi

Não me culpo,
nem a ele
por mais que deseje
a escrita dos seus olhos
Nem florbela, Hilda ou Adélia
outro cantante, contador...
nenhum senhor
será capaz de cantar
a minha loucura - asmática,

Não nesta altitude.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Na beira do rio.

O poema descabou-se.

A graça para ele
era cousa de poesia
moça de pouca sorte

para coisas que se herdam
não há escolhas
de olhos postos no espelho
reconheço-me
Nem para musa presto!

Suspiro versos velhos
enquanto os olhos na ponte
derramam-se.

Alívio,

não herdaram
assinaturas.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Senha

Que ele me beije
a pálpebra,
o sonho,
como quem beija
a própria casa.

(Porto Alegre, inverno de 2009)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Se eu na costura da tua linha não encaixasse
como saberia a qualquer tempo quando repousas teus cabelos em minha pele
e o compasso das tuas vogais deliciosas que suspiras em meu ouvido?
Não poeta, não suplica
o que já é abismo.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Ando devagar
Nem para discordar
Não tenho disposição
Ando devagar
Chove tanto esses dias
Estão lavando as estradas
Não estou triste
Não tenho nada
Apenas a janela embaçada

Esbarrão

Não foi um encontro
Foi um esbarrão
Nada de romance
Nem de olhares ao chão
Uma raiva talvez
Tava atrasada
Final de mês
No outro dia quem diria
Você estava lá
Cheguei a achar que era perseguição
Mas sei lá qual razão
Fez-me frear
E agora não sei nem o que fazer
Foi ficando de vez
No meu lugar
Tanto que me acostumei
Ao olhar pro meu canto
E atirar-me ao seu lado.

João Sábio

Era sabido pelo batizado
de uma fala sem rima
ficou acostumado
E do ritmo que lhe cabia
ganhou o apelido
do seu agrado
Arrastão no forró era convidado
Não era de proezas
como os cabras e seus achados
João acordava mudo
e deitava-se calado.

Ansiedade

Maldade de um tempo
contado em ponteiros de relógio
na angústia de quem
vive, senão a espera do amor,
eterna saudade, de quem sonha

Duas Despedidas

Hoje eu vou me despedir
me despir dos teus encantos
Hoje eu vou me despedir
também do seu pranto

Dois amores que eu construí
bem no fundo
dos olhos de cada um
agora que busquei
arrependi,
já não estava ali
em nenhum

Não cabe nem revelar
mas o filme ainda espera
ser resgatado

Eu saí pela tangente,
simplesmente
p'ra não ser vista
por ele
ao seu lado

Letra: Giulliana Missel
Música: Leeh

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Ensaio

Arranho as rendas
suspeito do preço dos teus carinhos
Mãos que passeiam, consumismo pleno
Alinhando meu corpo em um jogo cênico
por gula, vaidade, veneno.

Samba que eu gosto...

Eu quero fazer um samba pra você
Fiquei feliz ao ouvir essa
Quero ver você balançar...
Olhei ele melhor depois dessa
Você vai ser a minha única rainha!
Gargalhei por dentro, com esta
o samba começou a soar falso!

sábado, 24 de janeiro de 2009

Heresia



Todos os pecados, todos os palavrões, todos os sonetos, e todas as outras heresias, se fossem minhas, eu te daria. Ainda que eloqüentemente disfarce essa loucura ao te ver sorrindo, um sorriso assim contente.
Cantaria uma peça de Shakespeare, em uma sinfonia de passarinhos, como um solo lírico dessas Óperas que tu gostas. E assim, sem mais nem menos, de amor eu passaria a chamar-te de paixão, em plena luz do dia, na calçada, nua.
Ao que não havia
rendido ainda
um poema
Peço tua alma
ao Deus que te guia
ou em qualquer chuva
que se anuncia
Peço força
para que não te escorra
o que já passou
leve por tua pele
-um dia-
Que não morra
entre os teus ossos
[Asfixia]
esta alma
igual a minha.

Samba torto

Hoje eu quero fazer um samba
Quero subir a ladeira
alinhar as minhas coxas
com as das moças lá do morro
Cada verso que eu faço
Perco o tempo do dinheiro
Mais nobre me sinto
Dama com cavalheiro
Quero um samba bem partido
com balanço e com gingado
Um andar assim marcado
Um coração arrebatado
Pelo sonho favelado
Comprar vestido bem colado
Ser a rainha da escola
Uma gata boralheira
com seu castelo encantado
Mas do que vale esse passeio,
se não tenho o tempero
das moças lá do morro...

Olhos de Lince


Teus olhos são laminas,
cortam-me
Reflexos de lua,
vejo-me
em teus espelhos

Olhos de gelo
Medusa
Eclipse
Hipnose Noturna
Gotas de neve no escuro
Raios fixos no espaço
Enigmas
Enfeitiçam
e cegam-me!

Eu sou tua...


Sou poesia, daquelas feitas por Deus. Nasci de rabisco, da costela, das lágrimas e de sorrisos, sim de vontade e amor também. Permaneci aqui por chantagem, por pecado e por abandono, talvez.
Não sou partícula de uma explosão, sou a própria explosão, as galáxias moram em mim. A noite e o dia revesam a guarda do meu sono.
Você já se olhou no espelho hoje?
Eu estou ali, nos teus traços, nos teus laços, poderia estar no teu ventre ou no teu braço.

Como pedaço teu que te procura.

terça-feira, 18 de março de 2008

Servi a janta,
Enquanto meu marido enchia a sua pança
Senti que faltava-me algo,
Recorri ao velho armário
Encontrei o Mário!
Assoviando ainda mesmo que empoeirado
Cantava encantos daqueles arrendodados
Ele realmente não estava nem aí
Concordamos plenamente sobre o verso
bem sabido, como aquele que dizia:
"poesia deveria ser sermão"
Pobres coitados colocando-se como Deuses.

É Mário você tinha razão, eles passarão
Você não!




Meu marido? vou colocar para pegar um pouco de pó, dizem que quanto mais velho melhor.

domingo, 16 de março de 2008



Ontem fiz até um samba dos meus sonhos, foi como conceder-me a última dança, o fim de um reinado, e nem foi tanta tragédia assim, apenas algumas doses sem gelo. Estado solúvel se não fosse o tempo.
Como uma grande tempestade sem água, a realidade partiu-me como um raio, a consciência completou os trabalhos. E eu que por algumas linhas haveria escapado, passei no branco de mais um dia.

-Sem palavras-

Apenas com o velho silêncio, costurando retalhos...

terça-feira, 11 de março de 2008

Eu sou a flor morta, seca e murcha.
Eu sou a flor cinza!
Esse astro que invade?
É apenas mais um sol de abril, que nasce!
Em atropelos ao meu corpo, passam as folhas bailarinas,
Sobrevoando com saudade telhados e esquinas.
E eu continuo inerte, imóvel, fria.
Sem caule, sem cheiro,
Assim como poeira escondida!
Como promessa não cumprida,
Choro, uivo, grito,
Melancolia!
Mas meu pranto,
em Outono, é apenas
Ventania!

sábado, 8 de março de 2008


Dos meus poemas:


Da feiticeira à cortesã

Das putas às crentes

Das dores pungentes

Das águas ardentes

Dos amores cadentes

Da desgraça da gente,

Meus poemas mentem..











Mergulho

Sensibilidade (en)cravada
Não sobrou-me nada
das velhas cores rasas
São os dias vermelhos
Sádico vinho que bebo
Gostas que engolem,
As vontades adormecidas
Afundando-me no lago
Da profundidade infinita
Raios que cortam, águas frias
Minha carne temperada com menta
Sorrisos de um último trago
Estou servida à mesa
Mas as mágoas são fortes
E a minha morte, lenta.

sexta-feira, 7 de março de 2008


Como piada contada do avesso,

declamei a vista do teu endereço.

Quantos sorrisos pairam no ar...

se você vive perto do céu,

e eu estou no nível do mar?






quinta-feira, 6 de março de 2008



A distância,
Da noite para o dia faz
Saudades, o que foi ou o que ia.
Mas em todo o final da linha
Guarda-se um segredo
Desses de menina,
Um mistério que faz do feio, belo,
E do choro, um ponto de partida.
Desconfio logo que seja a culpa,
por saber que, de perto, não suportaria.

domingo, 2 de setembro de 2007

Depois do carnaval, o brasileiro, incluindo eu, entra em um luto velado, por mais que o discurso seja empolgado, e já está sabido e sacramentado que o trabalho enobrece, perdemos com data marcada, nosso reinado.
Chuva e sol perdem a rima, são os dias de março que se arrastam, como uma grande segunda-feira do ano.
Depois da alegria, que de certo, é pecado, semana santa, cada um com a sua cruz, em pleno mormaço..voltam à cantar, é feriado.